sexta-feira, 19 de março de 2010

COMUNICADO DO SERVIÇO SOCIAL DA COSEAS SOBRE A OCUPAÇÃO DO NOSSO ESPAÇO DE TRABALHO

Coordenadoria de Assistência Social
Universidade de São Paulo
Divisão de Promoção Social


Os funcionários técnicos e administrativos da Divisão de Promoção Social da Coordenadoria de Assistência Social desta Universidade vêm a público manifestar seu profundo desagrado e o sentimento de desrespeito pelo trabalho que desenvolvem, conforme atestam os acontecimentos relatados a seguir.

Em 18/03/2010, às duas horas da madrugada, a diretoria da Associação dos Moradores do Conjunto Residencial da USP, acompanhada de alunos e não alunos, decidiu ocupar o prédio onde funciona o Serviço Social da Coordenadoria de Assistência Social desta Universidade, órgão responsável pela administração do CRUSP e seleção dos alunos aos diversos benefícios existentes, entre outras atribuições.

A chamada “ocupação pacífica” foi justificada pelo grupo com o seguinte:
- Falta de vagas na moradia
- Atraso da reitoria na conclusão da obra de um novo bloco de residência
- Expulsões arbitrárias de moradores (inclusive de madrugada)
- Fim do programa Bolsa Trabalho
- Irregularidades constatadas nos processos de seleção sócio-econômica da Coseas
- Privatização do espaço de moradia cedida pela USP ao banco Santander
- Terceirização e precarização das condições de trabalho em órgãos administrados pela Coseas
- Política de vigilância e perseguição e violência implementada pela Coseas contra os moradores.
Reivindicações da ocupação
- Mais vagas na moradia e nos alojamentos
- Agilização da conclusão das obras do novo bloco de moradia
- Fim das expulsões arbitrárias de estudantes da moradia
- Fim do serviço de vigilância e da prática de violência irregular da Coseas
- Autonomia dos estudantes no espaço da moradia e nos processos seletivos para os programas de permanência
- Contratação de funcionários e melhoria nas condições desumanas de trabalho e atendimento nos restaurantes da Coseas
(Fonte: Coseas Ocupada - panfleto distribuído na ocasião)

Na manhã dessa quinta-feira, fomos impedidos de entrar em nossas salas para trabalhar e mesmo de retirar objetos e documentos pessoais, sob xingamentos e ameaças.
O trabalho do Serviço Social sempre foi pautado pela possibilidade de participação dos alunos por meio do diálogo, buscando melhorias no entendimento. Os critérios do processo seletivo atual foram discutidos ao longo dos últimos anos.

A invasão nos tirou as ferramentas de trabalho de forma violenta, pois nenhuma ocupação pacífica se dá por arrombamento de portas e impedimento do acesso dos funcionários.

Salientamos que nesse espaço encontram-se documentos sigilosos que se revelados deixam pública a situação social e econômica de todos os que dependem do atendimento do Serviço Social deste campus, quais sejam alunos e trabalhadores docentes e técnico administrativos que participam das diversas seleções (creches, moradia, bolsas etc).

Em relação às reivindicações apresentadas, temos a dizer o seguinte:
 a maioria não pertence à alçada de nosso trabalho e nossa possibilidade de resolução. O que nos compete é o estudo das necessidades e fornecimento de subsídios para que outras instâncias tomem decisões a respeito dos apoios, incluindo a construção de moradias;
 Em relação aos atendimentos aos calouros, neste início de 2010, de todos os alunos pleiteantes aos benefícios do acolhimento, que comprovaram necessidade de apoio, atribuímos, emergencialmente, o seguinte: 180 bolsas alimentação (refeição gratuita nos restaurantes universitários), 74 vagas provisórias no alojamento do Crusp, 65 auxílios moradia (R$300,00 por mês), 30 auxílios transporte (R$ 150,00). A demanda não atendida refere-se a: 37 alunos que não completaram a documentação, 14 que desistiram do curso ou do apoio, 5 que já possuem uma graduação e 13 que estão fora de perfil socioeconômico desse grupo requisitante. Estes dados são somente do campus do Butantã.
 A bolsa trabalho não foi extinta e sim substituída pelo Programa “Aprender com Cultura e Extensão” da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária, tendo a quantidade ampliada de 600 para 900 bolsas.
 A respeito das expulsões arbitrárias, esclarecemos que tal fato não ocorre no horário noturno. Os alunos que já esgotaram o tempo de permanência ou que são formados e que se negam a deixar a moradia, são submetidos a processo judicial e notificados por oficiais de justiça.
 A prática irregular de violência (existe violência regular?) não faz parte da prática dos agentes de segurança que muito têm colaborado no sentido de mediar conflitos entre moradores e evitar transtornos. Estes agentes fazem um trabalho de prevenção e proteção dos próprios moradores.
 Sobre a autonomia nos processos de seleção acreditamos que para ser legítimo esse processo deve ser feito por profissionais capacitados para sua operacionalização com ética e sigilo, pois deve ser imparcial. O diagnóstico social e o atendimento é prerrogativa do assistente social conforme a legislação pertinente.
 Quanto às irregularidades no processo seletivo, trabalhamos a partir de informações, declarações e documentos de responsabilidade dos usuários. A comprovação da situação socioeconômica de cada um é feita a partir destes documentos.

Baseadas nisto, vimos solicitar o apoio da comunidade uspiana para retomarmos o quanto antes nosso espaço e condições de trabalho, evitando prejuízos aos alunos e trabalhadores que dependem do nosso fazer.

São Paulo, 19 de março de 2010.

Equipe do Serviço Social da Coseas
Com o apoio da Coordenadora da Coseas
e de seus Diretores










3 comentários:

  1. Serviço Social da USP disse...
    O que querem estes alunos?
    Quando penso no que presenciei na ocupação no térreo do G, no Serviço Social, sinto-me triste!
    A falta de respeito com o outro, mostrou-me que em nome de direitos, abdicam de deveres. Essa cegueira em relação aos deveres não evolui na relação com o outro o respeito, o compromisso, a responsabilidade, a dignidade e a solidariedade. O senso do dever compõe nosso caráter e nos impulsiona ao crescimento, sem ele, acredito, seríamos empobrecidos, parados num dado momento histórico. E de alguma forma contrariando a essência da natureza humana, que é a busca pela autonomia e a liberdade.
    Em 18/03/2010, em frente a porta arrombada do Serv. Social, por volta das 18h00, o que senti foi muita humilhação ao tentar resgatar um objeto pessoal.
    Pareceu-me que ali estavam pessoas que não representam a grande parte dos alunos que eu atendo e com os quais tenho boas relações. Também não me pareceu que todos pertençam ao meio universitário, pois muitos deles vejo vagar pelos corredores do CRUSP há pelo menos 15 anos.
    Prezo o que faço, pois acredito que esse trabalho ameniza em certo grau a necessidade daqueles que nos procuram como também possibilita que mais alunos com dificuldades socioeconômicas possam seguir a academia se assim o desejarem.
    Há nesta logística, moradia, alimentação gratuita e a isenção das taxas: de água, luz, telefone, limpeza nas áreas comuns, serviço gratuito de manutenção elétrica, e hidráulica. Estrutura essa, que pode parecer ostensiva para a grande maioria da população brasileira, mas é a forma positiva encontrada para que mais jovens, com as mais diversas necessidades, acessem a Universidade.
    Em números não sei dizer o quanto custa um aluno que reside no Crusp, sei que é bastante... E, em contrapartida, a verba é pública, e é preciso que sua utilização seja equânime, justa.
    Exponencialmente, a utilização de recursos em menor espaço de tempo possibilita que mais possam ser beneficiados.

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  2. Prezadas servidoras e servidores da COSEAS,

    É com o coração sangrando que soube da violência que sofreram, por
    meio de um e-mail, com a privação do competente e belíssimo trabalho
    que realizam.
    De minha parte, como sabem, sou um homem doente e pouco posso fazer
    para ajudar. Entretanto, posso testemunhar o respeito, a ética e
    acolhimento deste mesmo homem, salvo pelas mãos e olhos repletos de
    generosidade de Assistentes Sociais que marcaram minha vida e de minha
    família.
    A vocês que estão muito além de qualquer burocracia, expressamos nosso
    profundo respeito e admiração; respeito, admiração e amizade. È só o
    que eu posso fazer no momento.
    BASTA DE VIOLÊNCIA E DE PALAVRAS AGRESSIVAS. É DE AMOR FRATERNO, POESIA E, PRINCIPALMENTE, DE PAZ QUE PRECISAMOS.

    Com amor, Elton.

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